domingo, 25 de dezembro de 2011

Sobre a minha visão de educação, reflexões de um professor

     O processo educacional inúmeras vezes se perde na dicotomia pensamento x sentimento, conteúdo x indivíduo o que fatalmente joga o procedimento pedagógico no antigo paradoxo segundo o qual o educando finge que aprende e o educador finge que ensina. Quando apenas o conjunto de conhecimentos é contemplado, o indivíduo transforma-se em mero receptáculo de um conjunto de informações desconexas, apenas reproduzindo conceitos e idéias pré-formatadas sem necessariamente significá-las, uma vez que não consegue aplicá-las. Por outro lado, o simples trabalho do indivíduo enquanto pessoa não o capacita, já que o elemento de conhecimento, o "tijolo de informação" necessário para trabalhar determinada lacuna cognitiva, transformada em problema prático não existe. Saber consertar um carro não resolverá o problema se as ferramentas necessárias não estiverem à disposição, da mesma forma que o conhecimento sobre o funcionamento dos motores não explica o problema característico daquele carro ou o conhecimento e posse das ferramentas em nada surtirá efeito se não houver conhecimento da teoria. 
     A verdadeira educação, baseada em competências, habilidades e conhecimentos deve priorizar o indivíduo como um todo. Saber e Ser, ou ainda, Saber Saber e Saber Ser como disse Perrenoud, deve levar em conta que mente, memória e corpo são agentes de um mesmo todo, formam um conjunto único denominado, agora sim, EDUCANDO, no sentido de ser alguém que está se formando por completo, entendendo que a sua humanidade reside não apenas no seu eu mas também nos conhecimentos que a humanidade angariou, ainda que os conhecimentos unicamente, não sejam capazes de gerar um ser humano, que necessita, também, de elementos emocionais.
     A interpretação é subjetiva, atravessa filtros pessoais, logo, se esses filtros não forem trabalhados, ao contrário de gerar significação geram um vazio, ou mesmo uma imagem destinada a se perder, uma vez que o filtro bloqueia a significação e não a informação.
     A verdadeira significação é o fundamento da educação mas ela só ocorre se a instituição de ensino e o educador estiverem preparados para despertar as emoções positivas e auxiliares no educando. Por isso, instituição, educador e educando devem se preocupar com sua compleição física, emocional e intelectual. 
     Baseando-se no pensamento de Perrenoud, para saber aprender é necessário trabalhar o filtro do educando, que ao invés de relacionar e alterar a zona de conhecimento proximal gera uma muralha de proteção desta, evitando que ela seja abalada e, portanto, que ocorra uma mudança nas concepções prévias do educando e bloqueandoo aprendizado. Uma importante ferramenta, então, é aquela que permita trabalhar o filtro. 
     O mais importante na educação é a mudança das crenças de cada um. Todas as pessoas tendem a proteger sua zona de conhecimento proximal, suas verdades e concepções, o que leva a uma repulsa ao conhecimento que pode, de alguma forma, alterar sua visão de mundo. Cabe ao educador modificar essa estrutura buscando alterar mais essa concepção do educando. 
     Outro fator pouco levado em consideração é o fator emocional, muito se fala em ser cuidadoso com a auto-estima do educando, mas pouco se fala em como ajudá-lo a trabalhar suas emoções, se a escola é o local de aprendizagem, deve também se preocupar em ensinar auto-controle, como o educando pode discernir suas emoções e trabalhar com elas. A emoção, junto ao intelecto, é a grande ferramenta humana para a realização pessoal, mas também pode ser sua derrocada. A emoção bem canalizada se torna um combustível para o crescimento pessoal, porém, desordenada é um fator extremamente limitante para o conhecimento. 
     É importante também entender quais são os objetivos do educando e como colocar objetivos novos para ele. Uma vez colocados esses objetivos, como atingi-los. 
     Direcionar suas energias de forma a atingir seu objetivo não é algo trivial, necessita de técnica, capacitação, e acima de tudo, orientação, momento este no qual o educador se faz novamente uma figura chave, agora trabalhando o "Saber Fazer", outro pilar importante da educação e é por isso que a escola deve se preocupar com esse fator, mostrando sua importância para atingir objetivos. 
     Outra função importante da escola é, então, despertar o educando para a importância do conhecimento, uma importância concreta, real aplicação na sua área específica de atuação. Assim, a redefinição do momento da avaliação deve assumir um outro perfil, como trabalha Vasco Moreto a avaliação não deve ser um momento isolado mas sim encaixado em um objetivo mais amplo. 
     Se a avaliação está embutida no processo, o educando percorre o caminho de forma mais natural e centrada, evita-se que ele se perca dentro dos próprios pensamentos de forma que o foco fica mais fácil. A aprendizagem se vê completada pela avaliação, que se torna um foco de competências e não mera aplicação de habilidades. Para tanto, porém, o primeiro a mudar deve ser o educador, que, muitas vezes, acomoda-se em sua zona de conforto. O educador deve entender, acima de tudo, que o educando não será especialista em sua área e que pessoas diferentes apresentam filtros diferentes, o que faz com que suas compreensões sejam diferentes e, portanto, as dificuldades também. A mobilização de habilidades diferentes depende da compreensão, e a compreensão depende do seu filtro. 
     Relevante também é entender que uma vez que a zona de conhecimento é abalada não necessariamente se reestruturará sozinha, é muito mais fácil que os filtros mais internos impeçam a nova informação de se fixar e alterar suas concepções prévias. Cabe então, ao educador, auxiliar a re-acomodação e, para isso, deve dar ao educando o equilíbrio emocional necessário, conectando-se a ele. A parte mais importante nesse processo é o laço de confiança que deve se estabelecer entre educando e educador. 
     É justamente o educador que vai definir ou re-definir a zona de conhecimento do educando. Para tanto, deve lançar mão de técnicas que permitam a significação de símbolos que irão representar os novos conhecimentos adquiridos. Observe que uma informação passa a ser conhecimento apenas após nos apropriarmos dela, ou seja, fixarmos em nossa zona de conhecimento. Nesse caso, o conhecimento passa por três etapas básicas: 

                                     APRESENTAÇÃO   =>    depende do filtro do educador

                                     ENTENDIMENTO  =>     depende do filtro do educando

                                 APROPRIAÇÃO    =>      depende da inter-relação educador - educando

     Infelizmente, a maioria dos educadores, esquecendo a individualidade de cada educando e, portanto, seus filtros pessoais, prende-se à apresentação, que é subjetiva e, portanto, não necessariamente eficaz. As técnicas mais importantes seriam o entendimento, pois deveriam levar em consideração a tríade que define a individualidade do educando: suas concepções prévias, suas estruturas emocionais e seu funcionamento psico-fisiológico. 
     A avaliação deveria se iniciar nesse momento, ou seja durante a apresentação, o que daria ao educador uma radiografia da forma como o educando está trabalhando seu entendimento e dá indícios de como o educador deve auxiliar nesse processo. Nunca é demais lembrar que, de fato o processo de ensino-aprendizagem ocorre nesse momento que é justamente aquele com o qual o educador menos se preocupa partindo da apresentação direto para a avaliação escrita, que só deveria ocorrer no fim da apropriação, afinal, ao olhar do professor, o educando só é capaz de definir ou utilizar conhecimento que já deveria estar apropriado. 
     Nesse momento, após a apropriação, temos o "tijolo" necessário para tapar a lacuna de um problema prático. Aqui começa o segundo momento do processo, que é realmente o objetivo social da educação, aplicar conhecimento apropriado às situações reais, assim atingimos as competências que se espera de um indivíduo no meio social. 

quarta-feira, 18 de maio de 2011

E a educação, como vai?

Há dez anos atrás entrei para os sindicato de professores e vi essa realidade. O primeiro e maior problema da educação é que o professor não é considerado profissional, nem pelos governantes, nem pelos patrões e muito menos pela população. Os governantes nos usam hoje como um dia usaram a seca no nordeste, os patrões como idiotas que se prestam a qualquer coisa pois tem que entender a realidade da escola, e pela sociedade que é incompetente para educar seus filhos e acha que o professor tem obrigação de atura-los por eles e o que é pior mais obrigação ainda de manter o protecionismo que eles recebem dentro de casa como se o mundo girasse em torno deles, enfim, educação perdeu o sentido nesse país, reunioes e mais reunioes em várias escolas sempre a mesma coisa, fazer ocorrencia, conteudo atrasado, horário, determinações para que o aluno fique dentro da sala como se a solução mágica fosse ele estar dentro da sala, o milagre financeiro da decada de setenta trasladado para a educação do seculo XXI, não ouço perguntar o que falta ao aluno para que ele aprenda, o que acontece que ele não da atenção ao seu aprendizado, porque ele não se sente na obrigação de responder pelo seu próprio conhecimento, pegam teorias de grandes pensadores e distorcem para o que eles querem, "o aluno tem que aprender a aprender" que inicialmente significava deixar claro ao aluno que o verdadeiro responsável por seu aprendizado é ele mesmo e que portanto ele tem que desenvolver suas próprias estratégias, virou ficar dando visto em caderno para fingir que o aluno esta desenvolvendo hábito de fazer tarefa, como se numa tarefa de alguns exercícios resumíssemos toda a teoria sobre um assunto desenvolvida ao longo de anos por mentes admiráveis de pensadores, "aprender ser" virou fazer ocorrencia para que o aluno se torne um cavalo encilhado que obedeça a ordem estabelecida ao invés de transformá-lo em um crítico, capaz de argumentar e se colocar respeitando os limites e a variedade de pensamentos e posições mas acima de tudo mantendo sua individualidade. O que fizeram da educação? o que estão fazendo com o profissional da educação? Gostaria que meus colegas, meus amigos, meus alunos e meus patrões perdessem dez minutos assistindo ao vídeo, não é vírus, não se preocupem, meus colegas para dizer que nesses dez anos de sindicato nunca tivemos apoio da classe, ao contrário, cada um ve seu próprio rabo, então se fazem isso conosco é também porque não existe união na classe, um bando de imbecis que acham que porque conhecem um pouco do conteudo específico de sua área, se denominam intelectuais e não entendem o valor da estrutura sindical porque mal sabem como funciona o modo de produção capitalista, nunca leram sequer uma frase de Marx ou Engels e se acham no direito de falar estupidezas porque seus desejos pessoais não são satisfeitos, eu faço a minha parte, mas todos tem que fazer a sua. Aos meus alunos para que reflitam um pouco e comecem a respeitar os profissionais que, todos os dias, se encontram em sua frente, mesmo com todas as adversidades, para tentar manter vivo o conhecimento humano, embora respeito seja algo que cada dia que passa está ficando mais no ambiente dos dicionários uma vez que ninguem aprende mais isso, os pais não tem, não ensinam aos filhos que não ensinarão aos netos, já que o brasileiro é um povo que não sabe respeitar nem a si próprio, veja os governantes que escolhe e o que aceita deles. Aos meus patrões para que entendam que, professor não é prostituta que por qualquer dinheiro faz o que querem, até porque professor bom, como qualquer outro profissional é dificil de se achar no mercado, entrar na sala hoje em dia e resolver meia duzia de exercícios qualquer um pode, dar uma aula de verdade é para poucos, o que faz muita diferença, mas infelizmente a educação está na mão de gente que nunca fez educação, pedagogos que nuna entraram numa sala de aula, diretores que não sabem sequer como segura um giz e mantenedores que só veem na escola um jeito de ganhar dinheiro, mas o que esperar de um pais no qual o ministro da educação é advogado com doutorado em filosofia? será que ele já deu aula numa escola de periferia ou mesmo numa escola de verdade? Pior aqueles que passaram pela sala de aula e se venderam quando chegaram do outro lado, bem diz Maquiavel:"o poder é coruptivel", sentem a oportunidade de se realizarem, de superarem suas frustrações e pronto, sobem na folha de sulfite e querem dar discurso, querem mandar como se a classa formadora do país fosse um bando de bóia fria tratado como um qualquer coisa, pior que muitas vezes a classe se deixa ver como tal, esquecem os verdadeiros objetivos da educação em nome de uma estrutura que satisfaça a seus próprios desejos, evocam o sacerdócio do educador como se ele fosse amaldiçoado pela prática de sua profissão e, por isso, tivesse perdido todos os direitos, enfim, a educação nesse país é isso, um bando de gente frustrada dirigindo pessoas que não se dão valor e uma classe dominante se aproveitando disso para ganhar votos, como resolver? Primeiramente valorizando o profissional, respeitando-o como se respeita um médico, um engenheiro, um advogado, que só o são porque passaram pela cadeira de uma escola e pela pessoa de professores, enquanto qualquer um puder entrar numa sala de aula para dar aula e os governantes, diretores e mantenedore acharem que podem agir com o professor como se ele fosse um ofice boy melhorado ou uma babá de luxo, manteremos essa situação deprimente que é a educação desse país. 



Se alguem de alguma forma se viu desrespeitado, seja colega, patrão ou aluno, significa que a carapuça serviu, então repense. Ensinar é passar ao educando os conhecimentos adquiridos pela humanidade ao longo de séculos, aqueles pelos quais revoluções foram feitas, homens morreram e cientistas abriram mão de suas vidas, qualquer coisa afora disso é responsabilidade da família, da sociedade, não do professor.

sábado, 15 de janeiro de 2011

"Ideologia, eu quero uma para viver"

Pois é, aqui estamos, pessoas agredidas na paulista, gente se preocupando com banheiros gays em quadras de escola de samba, bulling nas escolas americanas, e novela da globo com personagens gays, fugindo dessa temática o Rio em calamidade, Etna em erupção, Europa embaixo de neve, meu Deus, como tem coisa pra se discutir no mundo, tanta coisa que parece que o tempo não dá conta, aí passo na frente do cinema, um cartaz, lançamento do cinema brasileiro, Bruna Surfistinha, o que é isso, por favoooor, não tem nada melhor nesse país do que filmar a vida de uma prostituta, tá certo, depois que fizemos um delinquente, genial como poeta, isso é indiscutível, mas delinquente, como Cazuza parecer um cara a ser seguido, uma vida a ser romanceada, teve também o Selton Melo que já teve que encarar um traficante de luxo e um brasileiro que alcançou a fama por um erro da polícia britânica, a unica coisa extraordinária nesse caso é o erro porque mais nada justifica o filme, a grande bilheteria fica por conta da polícia, olha que legal, assumimos que nossa polícia é corrupta, que o policial está com os nervos em frangalhos, fazemos filme sobre isso, aplaudimos e... e nada mais, tudo como antes no reino de Arantes, mas vejam só a polícia tomou o complexo do Alemão, todo mundo aplaudiu, não sei porque, primeiro, não fizeram mais que a obrigação, para isso existe um estado organizado, e segundo, se tomaram  é porque haviam perdido e perderam porque, justamente por tudo o que era, é e será por muito tempo da mesma forma, não acabo com o tráfico, apenas faço com que ele mude de base de operações. Que tal, depois de Bruna Surfistinha, talvez um filme sobre Marcola ou Fernandinho Beira-Mar, vamos fazer a sociedade acreditar que tem algo de interessante na vida dos fora da lei, nesse caso pelo menos "nossos heróis não morrerão de over dose" rsrsr, isso é a falta total de ter do que falar, falta de caracterização de ídolos, falta de conceitos, o que é certo ou o que é errado, o criminoso vira filme, de filme vira modelo, de modelo vira herói, que o diga Virgulino Lampião ou o Padrinho Padre Cícero, ou mesmo os bandeirantes, que país é esse? como ninguém enxerga o que está por trás de tudo isso, a falta de cultura, falta de modelos, falta de educação, enquanto filmes extremamente inteligentes, mesmo comédias, elevam o nosso cinema, as grandes bilheterias ficam por conta dos Bope da vida, o que faz uma pessoa chegar na frente de um cinema e fazer essa escolha? o que leva um pai a deixar o filho assistir e começar a copiar um modelo como esse? Talvez nem o pai tenha modelos, custo a ser pago por anos de ditadura, de acefalamento da sociedade, de repressão das idéias, me pergunto o que esperar de um país assim, que espera o começo de todos os anos para assistir Big Brother, será que vale a pena, dá pra acreditar que esse é o país do futuro? Que futuro? Quem não sabe de onde vem, como pode saber para onde vai? Quando o correto será o certo e a cultura será realmente valorizada? Talvez quando entenderem que o pilar de todas as nações sempre foi educação, mas educação de verdade, com seriedade e não com números, o dia em que ouvirmos um discurso pedagógico que não cite estatísticas mas sim, aprendizagem, nesse dia talvez, até lá "ideologia, eu quero uma pra viver".